Monchique é uma vila do interior do barlavento algarvio, situada a cerca de 25km de Portimão a sul, a cerca de 29km de Silves a este e 30km de Aljezur a oeste. A norte faz fronteira com o concelho de Odemira, distrito de Beja. Ocupa uma superfície de cerca de 395,8 km2, distribuída por três freguesias: Alferce, Marmelete e Monchique. O seu habitante é designado por monchiquense.
História da vila de Monchique
O território pertencente ao concelho de Monchique, mais propriamente as Caldas de Monchique, começa a ser visitado pelos romanos, muito possivelmente seduzidos pelas propriedades curativas das suas águas medicinais – famosas no que respeita ao tratamento de várias enfermidades, como doenças respiratórias, musculares e reumáticas.
Nas Caldas de Monchique, situadas a cerca de 5km da Vila de Monchique, as propriedades das águas termais atraíram muitos povos. Achados arqueológicos comprovaram que este local já era conhecido e ocupado por comunidades humanas muito antigas, pelo menos desde meados do V milénio a.C. – durante o período Neolítico. Mais tarde, os romanos reconhecem também as propriedades terapêuticas destas águas, visto que constroem um edifício termal, concedendo assim uma maior monumentalidade e importância a este local, facto atestado, por exemplo, pelo achado de uma ara votiva consagrada às “águas sagradas”.
Com o passar dos séculos, a fama das termas de Monchique não deixa de aumentar, sendo que, alguns reis e rainhas portugueses aí recorreram, salientando-se a estadia do rei D. João II (1481-1495) no seu último ano de vida.
A serra de Monchique, considerando a documentação textual islâmica, entra na historiografia na primeira metade do século IX da nossa era. A denominação Monchique deriva do nome atribuído pelos muçulmanos a esta serra – Munt Šāqir, que significa “Monte Sacro” ou “Montanha Sagrada” –, correspondendo a uma provável adaptação e conservação de um topónimo de origem latina (Mons Săcĕr), ou seja, a designação Monchique sofreu alterações devido às diferentes culturas que nesta serra se estabeleceram e aos distintos momentos civilizacionais.
Posteriormente, aquando da primeira conquista de Silves em 1189 pelo rei D. Sancho I (1185-1211), é feita referência aos castelos que dependiam dessa cidade e que se renderam aos cristãos, salientando-se, entre outros, os castelos de Munchite e de Montagut. O primeiro destes nomes poderá estar relacionado com as ruínas de uma fortificação islâmica que coroa o Cerro do Castelo da Nave, a sudoeste da vila de Monchique, enquanto o segundo, provavelmente, corresponderá às ruínas da fortificação muçulmana existente no topo do Sítio Arqueológico do Cerro do Castelo do Alferce.
Pouco se sabe sobre a história de Monchique durante a Idade Média e boa parte da Época Moderna, provavelmente devido ao facto de o terramoto de 1755 ter afetado muito esta região, sendo um dos principais responsáveis pela destruição de edifícios e de arquivos com informações históricas.
No entanto, durante o século XVI, Monchique seria já uma povoação suficientemente importante para merecer a visita do rei D. Sebastião I (1557-1578). Atividades como a tecelagem (de lã e de linho), a cestaria e outras relacionadas com a exploração de recursos naturais como a madeira de castanheiro, terão contribuído para o desenvolvimento e prosperidade desta região, especialmente da povoação de Monchique, de tal modo que em 1773, no reinado de D. José I (1750-1777), foi elevada a vila – desagregando-se do concelho de Silves.
Nos inícios do século XIX, as invasões francesas e, alguns anos depois, a Guerra Civil portuguesa entre liberais e absolutistas deixaram, também, algumas marcas nesta região. Posteriormente, nos inícios do século XX, o concelho de Monchique continuava a ser uma região importante, contendo alguns edifícios marcantes – por exemplo um tribunal -, em muito devido à exportação de diversos produtos locais (hortofrutícolas, madeiras, tecidos, artesanato, entre outros) para as regiões próximas.
Situação atual
O município de Monchique tem vindo, de forma gradual, a perder população. Segundo os censos de 2011, habitavam no concelho de Monchique cerca de 6045 pessoas. Em 2021, esse número decresceu para os 5465, uma perda de cerca de 580 pessoas (-9,6%). O envelhecimento da população e o êxodo dos jovens para outras regiões com mais oferta de trabalho estão na base deste decréscimo.
O município de Monchique tem cerca de 395,30 km² de área e está subdividido em 3 freguesias: Monchique (sede de concelho), Marmelete e Alferce.
Atualmente esta região atrai muitos turistas, aliciados por diversos fatores como a qualidade dos produtos artesanais, a gastronomia típica, a qualidade das águas que brotam nas diversas fontes, as paisagens exuberantes – que também proporcionam caminhadas inesquecíveis e a prática de desportos de aventura -, o diversificado património cultural e natural existente, enfim, pelo ambiente relaxante e mítico que esta maravilhosa serra proporciona.
Importa destacar que atualmente ainda se vislumbram diversos vestígios arquitetónicos do passado em edifícios datados dos séculos XVI, XVII, XVIII e seguintes, salientando-se a título de exemplo as típicas “chaminés de saia” e os pórticos manuelinos da Igreja Matriz de Monchique.
O setor secundário desempenha também um importante papel na economia concelhia. Neste setor, destacam-se as indústrias relacionadas com a criação de porcos, têxtil e outras manufaturas. A primeira constitui uma das mais importantes atividades da região, enquanto que as indústrias tradicionais foram perdendo importância.
Em Monchique, a área destinada à agricultura ocupa apenas 8,3% da área total do concelho, sendo típicos os cultivos de cereais para grão, de batata, de citrinos, a horta familiar, os prados temporários, as culturas forrageiras e os prados e pastagens permanentes.
No que diz respeito à pecuária, aves, coelhos e suínos destacam-se como as principais espécies criadas. Este concelho tem uma elevada densidade florestal, com uma área da ordem dos 6914 hectares, o que corresponde a 75% da superfície agrícola útil. Apesar dos incêndios frequentes, que têm levado à plantação de pinheiros e eucaliptos, ainda existem manchas de dimensão variável de carvalhos, sobreiros, castanheiros e medronheiros.
Produtos típicos de Monchique
Dos produtos típicos, destacam-se:
Gastronomia do concelho de Monchique
Monchique tem uma gastronomia muito própria e bastante variada. Em muitos pratos, pode-se encontrar a carne de porco preto. Sendo Monchique uma região rural, era normal muitas famílias terem um porco que era engordado durante alguns meses, o qual era depois morto na “matança do porco”, que normalmente era feita nos meses mais frios. A carne do porco era depois transformada em enchidos, como a chouriça, a morcela, a farinheira ou o molhe (ou bucho), os quais eram consumidos durante algum tempo. A restante carne era depois conservada em sal e era retirada do mesmo à medida que era consumida.
O presunto de Monchique também era conservado no sal, conferindo-lhe um sabor diferente. Em muitas regiões do país o presunto é curado em fumeiro, mas em Monchique é no sal que é feita a cura.
Atualmente, embora menos famílias o façam, ainda existe a “matança do porco”. O facto de existir algum êxodo do campo para a vila de Monchique ou mesmo para cidades mais próximas, levaram a que esta tradição tenha começado a ser menos praticada. Além disso, a presença de supermercados que favorecem a compra de carne tornam este processo mais prático.
Nos últimos anos foram também criadas algumas fábricas de monchiquenses que se dedicam única e exclusivamente na criação e transformação do porco preto, vendendo a carne e enchidos nas suas lojas próprias. Esta indústria veio tornar a aquisição da carne e dos enchidos tradicionais mais fácil.
Ainda na base da gastronomia monchiquense estão os legumes da época, também cultivados localmente.
Alguns dos pratos de Monchique são o cozido de couve, o feijão com arroz, a couve com feijão, os milhos com feijão, grão com massa, assadura, todos eles cozinhados com carne porco pretos e alguns levam enchidos.
Em muitos restaurantes de Monchique é possível comer estes pratos tradicionais.